Não dá pra explicar de um jeito racional o que a gente pensa quando pensa em se matar.
Pois é. Vim falar de pensamento suicida.
Toda vez que o pensamento suicida vai embora, eu me torno 100% capaz de ver como tudo aquilo foi um exagero. Entro em um estado natural de esclarecimento onde é fácil perceber meus privilégios, as coisas boas da minha vida, as forças adquiridas diariamente pra lutar contra pequenos monstros sentimentais que vão aparecendo ali e aqui.
Mas aí… Alguma coisa acontece. Algo que pode ser a menor dor de cabeça do mundo pra 90% da população, mas que me faz começar a pensar sobre o quanto eu sou incapaz de lidar com as minhas emoções. Um sofrimento que tinha tudo pra ser tão pequeno, tão comum, mas que se une a milhares de vozes na sua cabeça dizendo aquela uma coisa que te faz doer a ponto de não querer lidar mais com isso.
Claramente, vou ter dificuldades de falar sinceramente sobre as minhas dores aqui. Talvez porque eu tenha esse hábito de menosprezar completamente o que eu sinto. É tão bobo! É tão pouco! Você sofre demais por coisas de menos.
Mas vamos lá, trabalhamos com comparações! Imagine que você tem problemas com, sei lá, o seu cabelo. Problemas mesmo! Passou a vida toda sofrendo muito porque as pessoas não gostavam do seu cabelo.
Aí você está vivendo a sua vida naturalmente e alguém muito importante pra você olha pro seu cabelo, dá uma risadinha, e diz “seu cabelo está diferente!”
Se você não tivesse problemas com o cabelo, não ia ter absolutamente nada demais nisso. Mas AH, você tem.
Então “diferente" começa a parecer uma palavra traduzida com centenas de significados na sua cabeça: horrível, ridículo, patético, ninguém gosta do seu cabelo, se você gosta do seu cabelo, meu bem, você devia se matar.
Parece ridículo se estivéssemos mesmo falando de cabelo, né?
Mas estamos falando de gente que se sente mal por ser quem elas são. O mais próximo que eu consigo chegar de uma explicação sobre o que me faz sentir mal é que eu sempre precisei de atenção e carinho e nunca soube ficar sozinha. Aí, se por algum motivo eu não sei lidar com a minha solidão… bam. Pensamentos suicidas.
Mas eles vão embora. Os meus vão, pelo menos. Eu me distraio, como alguma coisa, assisto alguma coisa e torço pra não voltar a pensar tanto naquilo a ponto de pesquisar “como se matar com o gás encanado do apartamento?” no Google. É estranho. Nunca falei sobre isso com ninguém. Saber que ninguém vai entrar aqui no meu medium a não ser que realmente queira me conhecer me deixa mais tranquila. Você que veio procurar sobre os meus pensamentos esquisitos! Eu não estou por aí falando pras pessoas que penso em me matar.
Porque a gente se sente ridícula fazendo isso. Falar sobre suicídio me faz sentir patética, pequena, me coloca aquele selo que tem a cara de 2007: attention whore. Eu sempre odiei esse termo. Mas quando falo de pensamento suicida, parece que consigo me ver me ouvindo do lado de fora do meu corpo, tipo uma segunda Camila, de braços cruzados dizendo “Cala a boca. Sua vida é perfeita. Para de ser ridícula.”
Minha vida é perfeita. Por que eu penso em me matar? Todos os dias. Ou pelo menos umas 4 vezes por semana, se for fazer uma média.
Eu não sei dizer. Mesmo.
Só torço pra continuar desistindo de me matar cada vez que penso no trabalho que daria pra quem encontrar os gatos sozinhos no apartamento, sem comida, a caixa de areia suja há dias, e uma porra de um corpo no banheiro ou na cozinha. Imagina que zona, e que cheiro horrível ficaria no lugar.
Vai ficar tudo bem. A gente faz terapia pra isso.