A tampa errada
Quero contar um pouco sobre o que é ter uma criança em casa.
Uma criança em casa, depois de tanto tempo convivendo com dois velhinhos, alguns gatos, e todas as minhas angústias de bolso.
Uma criança de pouco mais de um ano, que dá risada de qualquer barulhinho que você faz. Tem noção do que é isso? É rir quando você ri. É rir quando você soluça. É rir quando ele estiver afim de rir.
E chorar quando estiver afim de chorar.
Uma criança que fica enfurecida quando a tampa não fecha o pote. Não importa que ele não saiba como funciona, nem saiba que aquela tampa não é daquele pote: ele chora, porque está frustrado, oras!
É muito leve ter uma criança rindo na sua casa. Faz a gente pensar em rir mais. E faz pensar em chorar mais também.
Se a maior dor da vida dessa criança é um pote que não fecha, as minhas dores — minhas maiores dores — podem também ser muito simples. Tão pequenas, subestimadas pelo nosso consciente ativo, interpretadas como barreiras que não deveríamos nem nos preocupar em passar. Mas elas são dores.
Dê tempo ao seu corpinho, à sua mente, pra entender essa sua dor, entender como lidar com ela, como solucioná-la — caso ela tenha solução. Como um pote que não fecha, porque a tampa está errada. Não é que você é incapaz de fechar o pote. Você só não descobriu ainda qual é a tampa certa.